Sunday 7 February 2010

abro a janela e lisboa entra-me


abro a janela e lisboa entra-me toda pelos sentidos. razoavelmente iludo-me.sei que aqui pouca coisa me cativa, como numa cidade desconhecida mas familiar. tenho uma amiga, pouco dorme. uma cama e uma situação conflituosa, sem que chegue a descobrir a origem. cada manhã o anseio completo de voltar mais cedo ao seu lugar, seja ele dentro ou fora de si. a cidade acorda lenta e luminosa, como nas descrições dos panfletos turísticos. quero apanhar um taxi, mas acabo no metro ou no barco. quando a amiga se deita, eu me levanto, já escrita. lá fora um polícia vagueia, embalado pelos embriagado pelos primeiros raios de sol e o canto das folhas. pode ler-se ao fundo da rua `Amor, é não haver polícia´. a cidade descobre-se do teu manto nocturno e a pretensiosidade de inventar-la, desmoronou-se na primeira tentativa. tem seus encantos, uns para os turistas, outros escondidos, presentes relíquias da nossa história. o quarto mais pequeno da casa ainda dorme. todo o espaço é um mistério sombrio iluminado pela abertura imensa das grandes janelas, não demorou muito para perceber o segredo. o prédio faz esquina. ventos soltos e energias perversas atravessam o meu corpo. afinal há resposta para explicar a estranheza do lugar, a melancolia dos dias e a necessidade de espreitar cada luar. amor há idílico. os amigos conservam-se como em latas de atum. outros são como vintages esquecidos na garrafeira da memória, para num dia festivo, serem descobertos e se apreciem com espanto: `reparem, guardei esta garrafa, durante 34 anos, agora é o momento de acorda-la !´ qual o espanto de todos os convidas, quando, no fundo da garrafa se viram pairar restos de mosto e a acidez revelou um vintage estragado e mofo, salpicando o céu da boca com travo a desgosto. o vinho é para saborear todos os dias. os amigos descobrem-se e partilham-se. a garrafeira está sempre cheia e os dias são todos festivos. qualquer dia é para nós e esperar fará perder tempo a imaginar. apanho o barco, o metro, o taxi e mergulho na experiência do desconhecido. tenho um novo amigo, ácido e inseguro, critica tudo e faz política convertida em poesia. sabe tanto e deixa de sentir, paga para melhor compreender o incompreensível, acredita sem acreditar no amor, por que lhe faz tão bem. lisboa_28.09.2008

No comments:

Post a Comment