Thursday 11 February 2010

sobre o som da cidade ao domingo


sobre o som da cidade ao domingo, deito o corpo ao sol, como um lençol branco e lavado e espero. sonho com amigos, acordo a pensar, nas formas mais dispares de ajudar e comparo. depois escrevo, com letra pequena, deitada, bem junta, numa inferioridade ansiosa de protecção. cada dia passa lento, quase imóvel. esperando. esta ideologia de novo século, incomparável e crasso, liturgia navegante sem rumo. as ideologias de educação, potenciam o consumismo assaz e a competitividade de forma impiedosa eficaz e mortal. cada hora sem locução ou medo. ao lado da minha mesa de café está uma mulher que lê o jornal em diagonal, sem ler. quase insulta a empregada, negra. o contacto é de uma opressão indigna. duas formas de ver o mundo e num desvio fatal, aniquilar, sem pena. cada emboscada um pecado fatal e final, deste mundo penosos, mordaz, mas espectacularmente surpreendente. capto um som. uma pena angulosa nos maléficos entraves da cidade. outra vez ultraja-me o sentimento de culpa por existir, sem nada poder fazer para maravilhar. cada disputa uma nova guerra e nem Maquiavel consegue ensinar poções mágicas para a complexidade dos dias passados a informar, a receber a bombardear. a luta ineficaz contra a guerra de dentro um modelo passado de esponjas gastas pelos sorrisos dos dias sem amar. outro lado afugenta o recurso passado numa bengala triste e velha, quase sem dias encontrados à flor da pele, o desgosto pensado e encontrado ao fim da vida. um homem tosse para não dizer amo-te. o outro senta-se para se levantar e voltar a sentar, numa esquizofrenia inominável e bestial. cada dia espero. pausa. outro dia sem saber porquê. agora só a resolução pacífica dos problemas do mundo, pelo conhecimento assaz e incessante do eu. um momento mordaz sem continuidade. outro dia, corre. sem saber de ti. outrora, o cansaço fértil, permite a escrita e abençoa os dias para fecundar. se soubesse escrever um livro, escrevia como faço todos os dias, sem o fazer disciplinado, exigido pelos governantes impositores. depois a calma regressa, a ilusão cómica toma conta das manhãs passadas à frente do computador. o escapismo é a chama solta dos nossos dias e o olhar ao outro faz-se menos, muito menos.crónicas ditas, que ninguém tem tempo de ver. e solta-se um grito virtual realmente desordenado. percebemos finalmente, que juntos podemos mais. resta-nos encontrar tempo para dizer, olha-me sem perder o desgaste sombrio e doce dos dias de domingo. um telefonema e tudo se apaga, na apatia dos dias passados no café, sem esperança da diminuição de vindoura em que a criação recebe uma bola de chocolate, que apenas lhe faz mal, mas tem uma ilusão dentro, um brinquedo, originando novamente o escapismo, lapidando. o mais penoso, são realmente os amigos. a consciência de que a ilusão deles é a minha e seu encontro, per si é a nossa distância. uma bala disparada e fulminante. cada batalha um encontro sem talentos. a ajuda provém de si, não de vós e apenas um pequeno percurso, podemos fazer em nós, com voz ou palavras que ajudam a minimizar a dor ou a animar os olhos já baços pelo cansaço da vida. um amigo é para sempre, pensava eu, na ingenuidade de uma menina provinciana. mas todos acabamos e o senso de toda a vida é muito tempo, interessa viver mais do que para sempre, agora enquanto o sangue ainda pulsa fugaz desde o coração. o menino espirra e todo o seu ser se dilui com ele na esperança aberta de ir, já contente, sem palavras doces, mas com um chocolate e acima de tudo, um brinquedo. porto_05.10.2008

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